“Ispecialista” de som diz cada uma…

É triste ver como funciona o mercado de áudio de alta-fidelidade no Brasil.

Fui procurado por uma leitora do Hi-Fi Planet que me surpreendeu com comentários requentados, típicos de épocas passadas, onde “gurus” de áudio diziam tantas bobagens que confundiam qualquer consumidor. Sim, eu me refiro à consumidor, e não à audiófilo agora, pois, apesar de muita gente tentar criar um universo místico no áudio, dizendo entre outras coisas que ele é um eterno incompreendido, o fato é que equipamentos de áudio  são produtos de consumo como qualquer outro, por mais que alguns queiram transformá-lo em algo que transcenda a compreensão humana para obter vantagens de consumidores desnorteados pelas suas “verdades”.

Mas, entre outras coisas, a leitora me comentou que ela não quer cair na “armadilha” que um dia o músico e engenheiro Alan Parsons alertou, de que audiófilo não usa o seu equipamento (de som) para ouvir música, ele usa a música para ouvir o seu equipamento (Audiophiles don’t use their equipment to listen to your music. Audiophiles use your music to listen to their equipment).
Fiquei impressionado com o absurdo deste comentário ainda ser atribuído ao Alan Parsons, e lhe perguntei onde ela tinha lido essa idiotice. Ela me respondeu que achou isso numa pesquisa do Google, e na primeira oportunidade que eu tive, acessei o buscador para ver de onde esse tipo de “fofoca” continua brotando, já que isso nunca foi verdade, e para a minha surpresa, eu não precisei procurar muito.

É inacreditável que essa afirmação ainda seja absurdamente atribuída a quem já cansou de negar que tenha dito isso. E é ainda mais inacreditável que aqueles que mais criticam fóruns, grupos de usuários, profissionais com formações científicas e outros interessados em “som high-end” sejam aqueles que mais dizem estupidezas deste tipo. Tem quem, num devaneio ainda maior, chame o músico de contraditório por ele ter dito isso (coisa que ele nunca o fez) e ter depois participado de um evento em direção oposta, prestigiando uma feira de som High-End em Munique, em 2022.
O intuito do autor desse tipo de comentário, de forma bastante infeliz, foi tentar criar uma retórica ainda mais absurda e fantasiosa de que as pessoas nada sabem nada sobre o que falam ou escrevem, nem um engenheiro de som, compositor de sucesso, músico capaz, talentoso, experiente e inteligente, que pelo jeito não deve chegar aos pés de quem o critica, um “desconhecido” mundial e até local. Qual a credibilidade que alguém merece partindo de uma premissa falsa para desenvolver uma retórica ainda mais absurda e fantasiosa?

Eu já estou cansado de pessoas estúpidas, mal intencionadas, incapazes de criar uma ideia própria e munidas de inteligência reduzida criticarem a todos, colocando-se como o únicos donos das verdades que acham que conhecem. Sim, acham que conhecem, pois na prática são mais ignorantes do que o pior “ignorante” que eles criticam, e vivem caindo em contradições que chegam a ser hilárias de tão absurdas.

Frequentemente eu vejo esses dinossauros do áudio falarem as mesmas bobagens, criticando todo mundo e buscando cada vez mais, com as suas bobagens em forma de reflexões ou “artigos”, buscar criar confusão na cabeça do consumidor audiófilo, seja inventando percepções, negando a ciência, ou emitindo opiniões de valor com os seus ouvidos velhos e cansados, colocando a subjetividade como o maior argumento de suas limitadas e absurdas conclusões. Eles estão sempre criticando aqueles que discordam deles, dos que tentam mostrar a verdade sobre o que é de fato o som de alta-fidelidade, e que, na opinião destes senhores “cheios de boas intenções”, não merecem respeito de ninguém.
Eles colocam tudo no mesmo pacote, buscando ignorar o fato óbvio de que tem muita gente bem mais capacitada do que eles, pessoas que nunca precisaram iludir um grupo de ouvintes numa palestra, nunca privilegiaram anunciantes em detrimento do consumidor, nunca apresentaram avaliações de conclusões sobre equipamentos que sequer foram ligados em suas salas, nunca precisaram adulterar uma foto para dar credibilidade a um artigo, nunca avaliaram um recurso inexistente de um equipamento, e que nunca precisaram mentir para obter qualquer vantagem pessoal. Eu conheço muita gente assim, capaz, com conhecimento até profissional, que daria aulas para os “gurus” metidos a “ispecialistas” em áudio que, na realidade, fogem de testes cegos como quem foge apavorado de fantasmas.

Mas, dito isso, vamos sair da ilha da fantasia que alguns malucos criam por aí e vamos aos fatos, afinal, é a verdade que tem que ser difundida.
Antes de mais nada, é preciso entender de uma vez por todas que Alan Parsons jamais disse que o audiófilo usa a música para ouvir equipamentos. Apaguem de uma vez por todas essa grande besteira que gente que não tem sequer competência para pesquisar repete como sendo verdade. Eu acho que nestes momentos de delírio seria melhor que esses malucos usassem a IA (Inteligência Artificial) antes de escreverem ou dizerem as suas maluquices. Tenho certeza que a Inteligência Artificial faria os seus trabalhos com mais competência do que eles.
Aliás, vamos ver o que a IA nos diz quando pedimos para ela pesquisar o assunto, para depois eu esclarecer isso com uma precisão ainda maior.

Minha consulta à IA: “buscar em bases de dados de entrevistas, arquivos de áudio, textos, declarações, artigos ou qualquer outra fonte elementos que comprovem que Alan Parsons teria declarado algum dia que o audiófilo usa a música para ouvir seus equipamentos”
Resposta da IA do Google:
“Não achei evidência confiável — em entrevistas, arquivos de áudio ou textos primários — de que Alan Parsons tenha dito explicitamente a frase: “Audiófilos usam sua música para ouvir seus seus equipamentos” (ou em inglês: “Audiophiles don’t use their equipment to listen to your music — they use your music to listen to their equipment.”)
O que encontrei: Em uma entrevista para CE Pro, Parsons critica o foco excessivo em equipamento de hi-fi em vez das condições acústicas da sala. (ProSoundWeb – Rize Marketing Company).
Um artigo no site Boing Boing mostra que provavelmente essa frase não foi dita por Parsons, mas sim inventada ou atribuída a ele erroneamente.
Conclusão:
Embora Parsons tenha expressado opinião crítica sobre audiófilos que se concentram em equipamento em vez de música ou sala, não há confirmação confiável de que ele tenha dito a frase exata acima. A origem parece mais lenda de sites ou meme do que uma citação documentada.”

Mesmo assim, eu insisti: “Faça uma pesquisa mais profunda e tente descobrir de onde veio essa afirmação”

“Não consegui encontrar uma fonte primária que comprove com certeza que Alan Parsons tenha dito a frase comumente atribuída a ele: “Audiophiles don’t use their equipment to listen to your music. Audiophiles use your music to listen to their equipment.”  Em uma entrevista com Parsons pela ProSoundWeb (ou seja, “Exclusive Interview: Alan Parsons Speaks Out On His Work, Career, Audiophiles & More”), Parsons fala criticamente sobre “hi-fi” entusiastas (“audiophiles”) que focam demais em equipamento e não o suficiente em acústica da sala. (ProSoundWeb).
Não localizei nenhuma gravação em áudio, vídeo ou transcrição confiável que reporte Parsons dizendo exatamente essa frase. A entrevista no ProSoundWeb se refere ao tema (“audiophiles que prestam atenção demais em equipamento”) mas não contém a frase como citação direta no trecho disponibilizado.
Os sites de citações não apresentam fonte verificável (por exemplo, data da entrevista, livro, página) para essa frase específica atribuída a Parsons. Fóruns de entusiastas apontam que a frase virou “viral” como meme, mas sugerem que a origem original foi de outro autor ou comentário anônimo. Diversas reportagens e artigos sobre áudio apresentam essa frase como sendo Parsons o seu autor, mas não fornecem a fonte desta afirmação.
Conclusão provisória com base na evidência disponível:
É plausível que Parsons tenha expressado uma opinião crítica sobre audiófilos e o foco excessivo em equipamento — de fato ele o fez. No entanto, não há confirmação de que ele tenha proferido exatamente essa frase que circula amplamente.  A frase mais provavelmente teve outra origem e depois foi atribuída a Parsons como se fosse dele — o que torna a atribuição historicamente duvidosa.”

Vejam que curioso: “Fóruns de entusiastas apontam que a frase virou “viral” como meme, mas sugerem que a origem original foi de outro autor ou comentário anônimo. Diversas reportagens e artigos sobre áudio apresentam essa frase como sendo Parsons o seu autor, mas não fornecem a fonte desta afirmação.” Ou seja, os “ignorantes” (segundo os “gurus profissionais do áudio) que escrevem em fóruns acertaram, e os “ispecialistas” que escrevem em publicações impressas ou digitais erraram. Que interessante, não acham?

Então, agora eu vou explicar a verdade dessa história.
Ninguém consegue achar essa citação feita por Alan Parsons pela simples razão que ele nunca disse isso.
O verdadeiro autor dessa frase é conhecido pelo codinome “Tackhead”, e ele disse isso num site de comentários nesse endereço: https://entertainment.slashdot.org/story/12/02/09/195225/pink-floyd-engineer-alan-parsons-rips-audiophiles-youtube-and-jonas-brothers?
Ali, o usuário “Tackhead”, numa quinta-feira, no dia 9 de fevereiro de 2012, foi o autor dessa frase , aliás, uma frase bem inteligente e com a qual eu concordo muito.
Ele disse: “…. But we’re not talking about music lovers here, we’re talking about audiophiles. Audiophiles don’t use their equipment to listen to your music. Audiophiles use your music to listen to their equipment…”
Podendo ser traduzido como: “Mas não estamos falando aqui dos amantes da música, estamos falando dos audiófilos. Audiófilos não usam seus equipamentos para ouvir suas músicas. Audiófilos usam sua música para ouvir a seus equipamentos”. Como neste site dizemos a verdade, segue , como prova, uma imagem da afirmação feita:

Até a publicação deste artigo, esta página ainda encontrava-se publicada, e duvido que desapareça tão cedo, como certamente alguns desejariam agora.
Pessoas próximas de Alan disseram que o artista cansou de negar isso, mas que hoje ele nem se importa mais  com isso.

Atenção: Percebam que essa questão foi esclarecida há mais de 13 anos!!!

O fato já foi, inclusive, explicado lá fora pelo site: https://boingboing.net/2012/02/10/alan-parsons-on-audiophiles.html

O site Audiogon já direcionou um link uma vez que desfaz essa fofoca:

Notem que o link acima deixa claro que a famosa frase foi dita por um usuário do site. Novamente… há mais de 13 anos.

Isso também já foi desmentido no site Audio Nirvana: https://www.audionirvana.org/forum/the-audio-vault/general-audio/184818-audiophile-stereotypes

Vejam que curioso, o autor do comentário acima, Myles B. Astor, PhD, administrador do site e Editor Senior da Positive-Feedback diz, ao corrigir a informação postada acima, em tradução que: “Sim, exceto que ele nunca disse isso! Outra coisa que se diz um milhão de vezes e se torna verdadeira.”
Veja a importância de sua observação ao dizer que uma mentira repetida muitas vezes acaba parecendo verdade, e isso é algo perigoso, pois convivemos diariamente com esse tipo de distorção da realidade.

Esta é a verdade, e não aquela dita pelos “ispecialistas” de áudio que colocaram (e ainda colocam) estas palavras na boca de Parsons, e que ainda tentaram desmerecê-lo com uma contradição de atitude de algo que ele nem disse, usando essa historinha imaginária como base de seus argumentos, e pior, que ainda se colocaram acima de tudo e de todos, achando que o que eles dizem não pode ser contestado por “leigos”, “pessoal de fóruns”, gente que não faz parte de sua “seita” ou por qualquer outro “mortal” que contradiz as suas “mentiras” travestidas de “verdades”.

Diante desse exemplo, aliás, um infeliz exemplo, eu li mais alguns artigos destas publicações que apresentavam “equívocos” similares, sempre com a clara intenção de tentar enriquecer argumentos pra lá de fantasiosos, o que me motivou agora a iniciar uma série de artigos mostrando o quanto os velhos dinossauros ainda tentam induzir os seus leitores a erros, repetindo algumas afirmações dezenas ou centenas de vezes (se não milhares) para tentar convencê-los de uma verdade que eles criaram, também para os seus interesses pessoais.
É lamentável que, em pleno ano de 2025, com informações científicas e honestas sobrando em grande quantidade e com tanta facilidade de acesso a elas, e também com a evolução tecnológica atual, ainda tenhamos que conviver com esse tipo de absurdo, que só serve para justificar a existência da palavra “lixo”.
Assim, estou lançando aqui a série “Mentiras sobre o Áudio de Alta-Fidelidade que Sempre te Contaram”.

Eu já estou cansado para escrever estas coisas, e tenho outras prioridades na minha vida que hoje me dão mais prazer, o que me deixa com pouco tempo para escrever (aqui e em outros espaços que mantenho). Também não vivo de áudio, e NUNCA vivi dele. Sou advogado, com formação ainda em tecnologia eletrônica e em engenharia, e um apaixonado e estudioso de áudio de alta-fidelidade (ou high-end como alguns preferem), e nunca ganhei um único centavo com o áudio, e nem quero.
Mantenho esse site com recursos próprios, e não admito propaganda, anunciantes e sequer anúncios do Google. Aqui janelas não ficam se abrindo para tentar vender isso ou aquilo. Não preciso atender a interesses de quem quer que seja, não preciso mentir ou agir como um babaca para que acreditem em mim e sejam induzidos a qualquer pensamento, seja em meu benefício ou em benefício de quem quer que seja.
Eu mantenho esse site como extensão de um hobby, e pela satisfação de poder ajudar quem precisa, seja respondendo as dezenas ou centenas de consultas que me chegam às vezes mensalmente, seja pela mera disponibilização de textos honestos e corretos para ajudar o consumidor apreciador de música bem reproduzida a não jogar o seu dinheiro no lixo, com armadilhas e conselhos ruins.

Eu não quero ser o dono da verdade, não quero ter seguidores que me acompanhem cegamente, não quero o meu nome estampado numa placa de bronze numa praça, e não quero convencer ninguém de nada. A minha intenção é somente mostrar a verdade, e que cada um faça uso dela como achar melhor, até criticando-a, mas que essa crítica não venha de um imbecil, ou terá a merecida resposta, não só de mim, mas aquela que o tempo sempre escancara.
Enquanto as mentiras não são desmascaradas, tenham cuidado com os ignorantes (o que também não faltam), ou com pessoas com segundas intenções que vão contar mentiras para tentar tirar proveito direto ou indireto de vocês.

A audiofilia não é incompreendida como alguns querem rotulá-la, não é algo misterioso ou inexplicável que depende de equipamentos criados de forma mágica por bruxaria, e nem é uma coisa complicada de entender, como alguns dizem. Ela é simples, os outros que complicam demais.